quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Elementos para interpretação do hemograma

Eritrograma

Trata-se de um exame laboratorial que permite avaliar anormalidades nos eritrócitos, também conhecidos como “série vermelha”. Não é muito comum ser feito isoladamente, mas como integrante do hemograma. Através da análise do eritrograma podemos identificar anemia, desidratação, inclusões citoplasmáticas comuns em algumas doenças e deficiência de ferro. Exames laboratorias sozinhos não podem em hipótese alguma determinar o estado de um indivíduo, são usados como complemento da avaliação semiológica e auxiliam no diagnóstico final, o que depende da interpretação e dos conhecimentos do clínico.

Os valores de referência representam uma média mínima e máxima de cada espécie para se considerar resultados anormais. Animais diferentes possuem valores referenciais diferentes e até mesmo o estado fisiológico ou espécie pode alterar os padrões a serem interpretados, portanto, uma referência que é alarmante para um cão não necessariamente o será para um gato.

Para compreender o eritrograma é necessário entender minimamente o processo de produção dos eritrócitos. A eritropoiese é um processo contínuo no organismo e em situações de normalidade há maior quantidade de células adulta/diferenciadas do que células jovens na corrente sanguínea.
O estímulo pra a produção de eritrocitos é a hipóxia tecidual que estimula as células renais secretoras de eritropoietina a secretá-la. Esta por sua vez é lançada na corrente sanguínea onde circula até chegar na medula óssea e induzí-la a produzir eritrócitos. Após corrigido o desequilíbrio ocorre o feedback negativo promovido pelo aumento no número de células.
Em situações patológicas como na anemia, quando a deficiência de eritrócitos é acentuada, há um estímulo para que a medula trabalhe de forma muito acelerada, o que culmina no aumento de células jovens circulantes. Esta situação é benéfica e crucial na recuperação do indivíduo. Na insuficiência renal, por exemplo, pode haver perda de grande quantidade de células secretoras de eritropoietina o que pode causar anemia como complicação da doença.

Parâmetros utilizados na interpretação do eritrograma

Volume Globular(VG) ou hematócrito(HT): é a porcentagem da proporção de eritrócitos presentes no sangue. Quando está alto pode indicar perda de líquido(desidratação) o que ocasiona aumento na concentração de eritrócitos. Valores abaixo da referência inferior indicam pouca concentração de eritrócitos com relação ao sangue, o que sugere anemia. A amostra de sangue é centrifigada( no tubo de ensaio ou no microtúbulo de hematócrito) e colocada na frente de uma tabela graduada com valores de concentrações. É assim que obtemos o valor.

Concentração de hemoglobina: medida em g/L
A hemoglobina é uma proteína presente dentro da hemácia que carreia o oxigênio. Este exame baseia-se na espectofotometria que permite saber as concentrações de determinado soluto ao submetê-lo a feixes de luz. Quanto maior a concentração, menos feixes atravessarão a amostra e é assim que se tem os valores do exame que servem para os cálculos da concentração.

Volume corpuscular médio(VCM) ou volume globular médio(VGM): é obtido a partir de um cálculo matemático que divide a % do hematócrito pelo total de hemácias e permite inferir o tamanho destas. Um VGM elevado pode indicar presença de formas jovens em grande concentração e associado a VG baixo e concentração de hemoglobina baixa sugere que existe um quadro de anemia regenerativa, que é quando a medula está funcional e trabalhando para reverter o quadro anêmico. Se o animal for tratado estes valores voltam ao normal após reestabelecer a normalidade.

VCM= hematócrito%  x 10
        Total de hemácias

Concentração de hemoglobina corpuscular média(CHCM): mensura a contração de hemoglobina dentro das hemácias e é obtido a partir da divisão da concentração de hemoglobina pela do hematócrito.

CHCM= [] de hemoglobina(g/L) x 100
      hematócrito%

Avaliação morfológica dos eritrócitos: é a avalição visual do tamanho, forma, presença de corpúsculos/inclusões, agentes infecciosos, teor de hemoglobina e outros. É feita a partir de esfregaço sanguíneo que é analisado por microscópio óptico.

                                                       Eritrócitos Fonte 



Leucograma

No leucograma analisamos a “série branca” do sangue de forma quantitativa(valores globais/ absolutos) e qualitativa(morfologia, presença de inclusões, etc...), assim como na análise anterior. O número de leucócitos permanece relativamente constante e tem suas proporções alteradas em situações patológicas. Saõ classificados como polimorfonucleares aqueles que possuem núcleo condensado e segmentado, também chamados de granulócitos devido a sua grande quantidade de grânulos citoplasmáticos contendo enzimas hidrolíticas, agentes antibacteriano e são identificados pela coloração de seus grânulos(neutrófilos, basófilos e eosinófilos). Os mononucleares também são chamados de agranulócitos, porém, não são desprovidos de grânulos, apenas os têm em pequena quantidade.

Leucocitose: É o aumento geral de leucócitos. Pode ocorrer em processos inflamatórios, infecciosos ou esxtresse extremo. Corresponde a fase aguda da doença.

Leucopenia: geralmente associada a infecção viral ou estresse extremo/crônico devido a liberação de cortisol.

Desvio a esquerda: é a presença de alta quantidade de células da linhagem granulocítica jovem, ou seja, bastonetes(neutrófilos joviais).

Neutrófilos: São células móveis, fagocíticas, produzidas e armazenadas na medula óssea e liberadas para o sangue periférico por estímulo de mediadores inflamatórios. Podem circular(população flutuante = 50%) ou permanecer marginados ao endotélio dos vasos sanguíneos. A população marginal pode ser mobilizada por estímulos inflamatórios como adrenalina + corticosteróides(estresse ou medicamento) e produzir neutrofilia, sem necessariamente haver liberação destes da medula óssea.
Neutropenia: como é o primeiro leucócito a ser mobilizado nas mais variadas infecções pode ter sua produção aumentada mas, está sujeito a baixas pela ação de vírus, antibióticos, antiinflamatórios e bactérias.

Eosinófilos: a eosinofilia é comum em processos alérgicos, parasitoses e distúrbios dermatológicos, mas também pode ocorrer em estados de convalecença por doenças virais.
Eosinopenia: em situações de estresse agudo e estimulação por adrenocorticóides, adrenalina ou ambos em estados inflamatórios

Linfócitos: participam das infecções somente após reconhecerem o antígeno e produzem anticorpos(linfócito B) ou agem por citotoxicidade(linfócito TCD8)
Linfocitose: ocorre em vários tipos de infecções.
Linfopenia: Ocorre em estresse crônico ou uso de corticosteróides.

Basófilos: comuns em alergias. Possuem grânulos com heparina e histamina.

Monócitos: atuam como apresentadores de antígeno, na fagocitose e eliminação de microrganismos.
Monocitose: pode ser observada em fase de convalecença e cronificação de uma doença.
Monocitopenia: pode ocorrer secundariamente a endotoxemia ou no uso de glicocorticóides.

Leucócitos Fonte



É isso, bom estudos!



2 comentários:

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